Robert Aldrich, talvez por produzir seus próprios filmes, acabou, ao invés da maioria de seus colegas cineastas de hollywood, se livrando da...
Robert Aldrich, talvez por produzir seus próprios filmes, acabou, ao invés da maioria de seus colegas cineastas de hollywood, se livrando da manipulação dos grandes estúdios e ser livre para fazer os filmes que quisesse, afinal, esse diretor não tinha o hábito de trabalhar com um produtor ao seu lado. Exemplo bom dessa liberdade artística que Aldrich gozava é esse O Vôo da Fênix, um filme ousado seja pelas dificuldades em se filmar em meio a um deserto, incluindo o trabalho de se levar um avião até tal, seja também pela forma com que o tema é abordado, de maneira a valorizar os personagens sobre os eventos, coisa que pode afastar o público, e cá entre nós, afastar o público não é lá algo muito agradável do ponto de vista de um executivo de estúdio. Um avião de carga atravessa o deserto do Saara levando consigo cerca de 12 passageiros, em sua grande maioria, funcionários de uma petrolífera árabe. Porém, ao passar por uma tempestade de areia, o motor é danificado e o avião acaba caindo a cerca de 130 milhas de distância da rota original. Perdidos em um local em meio ao nada e sem esperanças de resgate, a única chance de saírem de lá surge quando um dos passageiros se identifica como um designer de aviões e alega que seria possível construir um monomotor a partir das peças do avião avariado. Ao contrário do remake de 2004 dirigido pelo fraco John Moore e com Dennis Quaid no papel principal que fora de James Stewart, o filme de 1965 não é um filme de ação. Pelo contrário, a pouca ação presente nesse filme vem como um mero artifício, mais até como consequência. Em nenhum momento o foco é a ação, a ação é um mero objeto necessário em certos momentos para dar a ênfase necessária nos momentos em que isso pede. Durante toda a obra, fica perfeitamente claro que o foco do roteiro são os personagens. Cerca de 10 deles que são trabalhos um a um, com suas próprias personalidades, angústias e histórias. Exemplo bom disso é Gabriel, o personagem de Gabriele Tinti. Durante a queda do avião, alguns barris caem sobre Gabriele, matando os dois homens ao seu redor e esmagando sua perna. No pouco tempo que tal personagem fica em cena, antes de morrer por consequência dos ferimentos, conhecemos seu passado, sua esposa, seu medo de não voltar para casa e todas as suas esperanças. Mesmo assim, esse é o personagem menos explorado do filme. Mas, por mais que tente, fica difícil fugir dos estereótipos. O que Aldrich e seu roteirista Lukas Heller fazem é esconder bem essa imagem. Porém, olhando fundo por detrás daquela figura que aparenta ser totalmente original, tem-se as mesmas figuras de sempre. Uma curiosidade é que, durante as filmagens da cena final, o lendário dublê de piloto Paul Mantz era o encarregado por fazer as cenas com um avião real que na montagem final acabaria simulando o avião reconstruído. A sequência se consistiria em Mantz tirar o avião do chão um pouco, tocar o solo novamente e finalmente decolar. Após a primeira tomada, Aldrich resolveu que seria interessante rodar mais uma vez para alguns close-ups. Porém, nessa segunda tomada, o avião se acidentou e destruiu-se completamente, matando Mantz. Nos créditos finais, há uma homenagem de Aldrich a Mantz, dizendo que "Deve ser lembrado que Paul Mantz, um bom homem e piloto brilhante, deu sua vida na realização desse filme". Como em todo o filme de Aldrich, o elenco é a grande peça. Elenco esse que dessa vez conta com James Stewart no papel principal do piloto, Richard Attenborough como o co-piloto, e entre os passageiros, temos ainda Peter Finch, Ernest Borgnine, Dan Duryea, George Kennedy e Ian Bannen, no papel que lhe rendeu uma indicação ao Oscar. Seria melhor, porém, se o filme em si tivesse um nível tão elevado quanto o de seu elenco...
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