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Dez (2002)

Não existe forma melhor de retratar um ponto de vista complexo, de forma chamativa e elegante, seja ele voltado para um fim social, ou até m...



Não existe forma melhor de retratar um ponto de vista complexo, de forma chamativa e elegante, seja ele voltado para um fim social, ou até mesmo político, do que envolver a arte nessa manifestação. De todas as vertentes que o conceito da "arte" pode nos oferecer, notamos que o cinema é um dos veículos que mais ganha importância, no cenário mundial. Partindo desse princípio, o realizador pode transmitir sua mensagem de forma clara, sucinta e instigante, sem precisar de técnicas aprimoradas, e muito menos de um investimento pesado. Abbas Kiarostami, grande nome do cinema iraniano, comprova cada palavra supracitada, em "Dez". A globalização proporcionou uma troca rápida de informações, que ignora qualquer dificuldade gerada pela distância dos continentes. Com isso, notamos, diariamente, nos jornais, o dia a dia de diversos países, dando destaque para os conflitos que quase sempre estão presentes, seja pela disparidade dos ideais políticos, ou até mesmo por motivos que envolvem diferentes concepções de crenças religiosas. Por mais que as imagens sejam chocantes, o público acaba tendo uma posição passiva, mediante ao fato desses problemas serem corriqueiros, por mais incrível e irônico que seja. É neste exato momento, que a arte entra em campo para dar um tapa na cara das pessoas que assistem a esse confronto pusilânime, sem ao menos esboçar uma preocupação pelo povo que morre, e pelas famílias que sofrem, afinal de contas, o nosso luxo está garantido, todas as manhãs. "Dez", belíssima produção de Abbas Kiarostami, mesmo não sendo uma obra-prima, consegue transmitir tudo o que o diretor queria passar, principalmente, por atingir o espectador de uma forma que qualquer noticiário, jamais vai conseguir fazer, mesmo abordando aspectos semelhantes. Usando apenas dois enquadramentos, Abbas Kiarostami nos mostra a vida de uma mulher iraniana, e as suas relações, com diversas pessoas, dentro de um carro. A utilização desse único ambiente é proposital, por criar uma proximidade maior entre personagem e espectador. A lente da câmera, usando esse plano fechado, foca apenas no que é fundamental: o ser humano e o seu comportamento.

A intenção de trazer um caráter semelhante a de um documentário, é justificada pela tentativa de estreitar os laços entre a ficção e a realidade, afinal de contas, cada passageiro ilustra uma questão social diferente, que acaba confrontando a personagem principal, que não passa de uma alegoria do universo feminino, numa sociedade preconceituosa e destruidora. Divórcio, prostituição, religião, e submissão, são alguns dos pontos principais, que são apresentados por cada personagem que senta no banco do passageiro. Por vezes, ouvimos o diálogo, mas uma das pessoas não está sendo mostrada pela câmera. O efeito causado por essa técnica faz com que o espectador dê mais valor às palavras, do que à própria imagem. Essa visão intimista defende a mulher, que, frente à sociedade, sempre é julgada pela imagem, e não pelo que ela realmente é. O desfecho arrebatador demonstra, em apenas uma frase, que a personagem conheceu todos esses fatores antagônicos, e que tudo isso vai se repetir, num ciclo interminável, até a sociedade se conscientizar. O diretor Abbas Kiarostami traz a realidade para o cinema iraniano, que, sem dúvida alguma, vem crescendo muito, nos últimos anos. Num jogo de alegorias e sentimentos pesados, Abbas mostra o verdadeiro lado cruel da sociedade, que não vemos nos noticiários. Não dessa forma. Terrivelmente emocionante.

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