Proponho aqui um convite desafiador. Percorrer um caminho arrostado por raros, a saber: entrar num labirinto cujas proporções são imensuráve...
Proponho aqui um convite desafiador. Percorrer um caminho arrostado por raros, a saber: entrar num labirinto cujas proporções são imensuráveis utilizando como mapa somente ‘migalhas de pão’. É preciso deixar as ‘migalhas’ pois, somente elas serão capazes nos nortear nesse caminho equivocadamente já mapeado pelos preguiçosos desprovidos de senso crítico e criatividade, que ostentam a obra como um simplório signo de mera erudição, simbolizando-a. A obra, a saber, é a pouca comentada porém muito ostentada Laranja Mecânica ou, para os gringos de plantão, A Clockwork Orange.
Nela, Stanley Kubrick, baseado na narrativa do britânico Anthony Burgess, rege com grandiosidade e maestria a vida do jovem Alexander DeLarge e seus droogs. O filme nos convida a analisar de inúmeros pontos de vistas problemáticas tais como: Liberdade Individual ou, para os espíritos agostinianos, o Livre Arbítrio bem como a problemática nietzscheana, Bem e Mal. Kubrick, conservando sua postura enigmática, sua estética incomum, e uma mente perfeccionista, detalhista e, porque não, doentia, traja o ator McDowell de vestes futuristas, exóticas de tom branco cadavérico, pormenorizações circenses nos olhos, e uma espécie de olho nos pulsos. É assim que o protagonista se veste para cometer seus atos considerados criminosos, em sua sociedade, bem como seus demais feitos hedonistas. Não economiza no grau de violência, em práticas sexuais inimagináveis e uma espécie de tensão psicológica possibilitada, especialmente, pela trilha sonora escolhida. Uma gênero aterrorizante. Uma marcha fúnebre hipnotizante.
Divagações à parte, o filme insiste num oscilar de emocões incomum, criado, provavelmente para perturbar a mente e fazer pensar. Até que ponto o estado pode e/ou deve interferir no comportamento das pessoas? Quando a tênue divisão que existe entre minha liberdade e sua é rompida? Quando acaba a minha e começa a sua? São problemas complexos que, talvez, apenas mentes inquietas detectam. Claro que é preciso, antes de tudo, possuir a devida sensibilidade para decifrar a mensagem. Ser louco ajuda, também. Quem aceita passar pelo Tratamento Ludovico? Alex, não é mesmo? Ele não foi forçado a escolher, em nenhum momento. Portanto, será que o sistema, naquela situacão, foi maléfico enquanto poder supremo? Ou será que DeLarge foi vítima do sistema vigente, no caso? Vem a calhar, nessa situacão, elucidar a velha problemática já citada: O que é o bem? O que é o mal? Qual os parâmetros para isso? Se existe, quem os estruturou? O ser humano? Cheio de defeitos e crenças? Não? Quem, então? Deus? Que Deus? É importante abrirmos a mente para analisarmos tal situação para, consequentemente, tentar entender a mensagem existente na obra. Será que a interferência no direito de ir e vir de DeLarge, em algum momento foi satisfatória? Se sim, satisfatória para quem? Porque? Para o estado? Para ele mesmo? Quem dita as regras no filme, na verdade? Será que o incontrolável adolescente Alex, que parece ter controle do todas as situações? Ou o estado, que assume de certa forma, o controle por um tempo?
Essas perguntas não precisam ser necessariamente respondidas uma vez que, quem as formulou foi essa simples pessoa que voz escreve, como diria nosso amigo Alex. Ou Alguma coisa assim. Proponho aqui um pequeno e complexo exercício. Arrume as almofadas de sua cadeira, puxe a escrivaninha mais para perto, ajeite seus óculos e ponha sua mente insatisfeita, incompreendida e inquieta para funcionar. Pegue aquela cópia pirata do seu filme preferido e ponha-se a tentar compreender todas a indiretas que só uma mente paranóica pode identificar. Do contrário, vá a locadora mais próxima e pergunte qual o filme que mais está saindo.
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