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Sangue de Pantera (1942)

Certos fatos são injustificáveis. Por mais que diversos aspectos sejam levantados, é difícil encontrar uma resposta aceitável para determina...



Certos fatos são injustificáveis. Por mais que diversos aspectos sejam levantados, é difícil encontrar uma resposta aceitável para determinada situação. Como o foco é o cinema, levanto uma questão: por que Jacques Tourneur, diretor francês de filmes B, tem uma carreira tão subestimada? Não podemos aceitar o argumento que se refere aos filmes de baixo orçamento, afinal de contas, William Castle e Roger Corman são dois grandes nomes que ganharam notoriedade, justamente por esse motivo. Sempre caminhando atrás desses dois profissionais, Tourneur dirigiu obras incríveis, com poucos recursos, mas, que, mesmo assim, demonstravam uma superioridade surpreendente, para a época. No seu primeiro trabalho com Val Lewton, grande produtor que o acompanhou nos seus primeiros filmes, na década de 40, o francês dirigiu "Sangue de Pantera", obra voltada para o gênero terror, que segue um caminho transgressor ao que era comumente apresentado por boa parte dos realizadores, naquele período. A estória, baseada num livro de DeWitt Bodeen, se baseia na vida de uma jovem, que começa a presenciar estranhas manifestações, quando se mantém perto dos felinos. A situação acaba ficando descontrolada, e a inocente jovem tem medo de prejudicar as pessoas, por causa do seu comportamento. Deixando de lado a utilização dos efeitos especiais, Tourneur opta por criar a atmosfera de outra forma, fazendo com que esse diferencial seja uma das grandes marcas registradas de sua filmografia. O trabalho consciente na direção é notável e indiscutível. Em vez de buscar a repulsa pela violência gráfica, Tourneur prefere utilizar algo mais suave para incomodar o espectador. Os indícios do que seria apresentado apenas no desfecho, criam um clima claustrofóbico em cada cena, sem prejudicar o efeito planejado. A própria montagem, quando voltada para as cenas que envolvem os animais, juntamente com as frases e atuações agradáveis, enriquecem cada take, e, por conseguinte, preparam o espectador para os momentos finais, que se encerram com uma belíssima frase de John Donne, que busca sintetizar a temática, de forma metafórica. O diretor consegue trazer uma lugubridade, com o auxílio da fotografia, dando destaque para as tomadas que a luz e as sombras criam um espetáculo visual indescritível, que dificilmente veremos novamente, nas mãos de outros profissionais. Quando projetadas na parede, vemos que as sombras geram certa sensação que incomoda o espectador, por não reparar o que realmente está acontecendo. De fato, a reação não seria a mesma, caso os efeitos especiais fossem utilizados de forma predominante. Tourneur acerta em cheio, e traz um novo molde para os filmes do gênero, que começavam a ganhar mais força, dentro da indústria cinematográfica. Uma estreia surpreendente é tudo que um diretor quer ter. Tourneur foi além. Mesmo não tendo o reconhecimento que outros nomes da época tiveram, Jacques Tourneur foi um grande expoente do gênero, inovando e esbanjando talento em cada produção. Sua preocupação com cada quesito, principalmente os estéticos, e a destreza supreendente na direção, fazem com que seu nome jamais seja esquecido, pelo menos para os amantes do bom e velho cinema.

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