Francisgleydisson(Edmilson Filho) é um grande sonhador acima de tudo. Suas histórias são nutridas da criatividade tal qual Hollywood(o objet...
Francisgleydisson(Edmilson Filho) é um grande sonhador acima de tudo. Suas histórias são nutridas da criatividade tal qual Hollywood(o objeto tão desejado do filme) inventa e cria, mas principalmente ele é um retrato pobre novelístico e dramático do nordeste brasileiro, portanto sempre foi e sempre será um grande contador de história e está fadado a isso pelo resto de sua vida, foi assim que lhe foi encaminhado e é assim que a missão do kung-fu o leva dentro de um mundo o qual só ele pode comandar, onde ele é o mestre seu filho é o ninja aprendiz e seu sagui é o seu filhote de King Kong. Por mais estranho que possa parecer seu sonho é realidade em outra dimensão. Criar um filme deve ser algo que todo cinéfilo já parou para pensar em um momento – ou até mesmo já arriscou alguns testes ou curtas com algumas histórias – e Francis é também um showman, que aprendendo com o cinema e o seu mundo passa para uma fase essencial que o cinema deve ensinar para cada cineasta que nasce vendo filmes – independentes de quais sejam -, o dom da mentira.
Ao mesmo tempo Cine Holliúdy(idem, 2013) assume sua posição quanto homenagem ao cinema, é também um filme essencialmente crítico e também dramático – retratar o sertão brasileiro sempre vai ser uma tarefa de tristeza e drama, por mais engraçada/irônica que seja – representa a pobreza, a mesquinharia, a ignorância e o difícil ou impossível acesso ao cinema com sua respectiva inimiga, a televisão o matando, no interior do Ceará(e o interior nordestino como um todo se encaixa perfeitamente). Políticos e agentes do governo salafrários e bandidos de primeira marca ultrapassam os limites que a democracia lhe impõe e avançam vorazmente nessa dificuldade que outrora representa tão somente o atraso de um avanço mais que essencial e básico que já se conquistou no mundo em décadas atrás, mas ainda mantém a mesma situação.
Cine Holliúdy(idem, 2013) protesta contra a falta de incentivo cultural e principalmente larga a culpa da falta de educação que principalmente forma um município pouco ou nada democrático alegando uma criatividade da autoridade maior para inventar mentiras tão grandes como a de nossa cineasta, Francisgleydisson. Por mais que se esconda ou pelo menos não explicita, é um desejo absoluto delicioso, uma indignação de Gomes com o que julgou tão forte para o seu desenvolvimento como cinéfilo – e consequentemente como criança, pedaço da infância – traga para esse espaço popular algo antigo, absurdo como a ausência do cinema, de uma falta de avanço que Sganzerla protestava e Glauber Rocha observava pelo caos nordestino, portanto mais do que tudo somos miseráveis como todos os que estão lá, que serve de parte principal e peça chave para usar no que Fellini tanto presou em seus filmes, aqui na saga de Francisgleydisson.
Para Francis e os moradores da pequena cidadezinha, tudo é muito novo, recente. Como cachorros loucos por um osso, as crianças imaginam as lutas e mesmo que dependam de um garoto com a preciosa e rara televisão 12 faixas coloridas para ver o seriado Kung-Fu, não deixam se abater, por mais que o esporte, o futebol faça parte de suas vidas, para Halder, estamos sempre redescobrindo o cinema, uma fonte inesgotável de conhecimento pronto para ser revivida a qualquer instante. Apesar de toda a ignorância dos moradores seja também muitas vezes enorme em relação ao cinema, são tão espectadores quanto qualquer um ou muito mais; são pequenos cidadãos que vão se apaixonando pela arte que a tela demonstra e principalmente pelo o que ela proporciona, no seu sentido mais simples, são olhares de recém nascidos do cinema.
Por mais que o bang-bang seja de um índio e um cowboy e sua continuação seja puramente a inversão do título ou uma papagaiada a mais na roupa de um dos dois(de subtítulos com; revanches, torneios, “ultima batalha”, “o verdadeiro conflito” e até mesmo “o retorno”), sempre estaremos vendo algo de novo na telona, por mais minucioso ou pouco criativo, a continuação da saga do galã do western(que vai desde John Wayne até Clint Eastwood) ou do cinema de ação de Hong Kong(Bruce Lee, acima de tudo) é algo que os olhos pedem mais, e a curiosidade incessante que uma boa história pode causar, fazendo mais e mais filmes, transforma uma história simpática(como a da própria trama do filme) com envolvimento do público, é normal que tudo se origine em centenas de continuações, origens e confrontos especiais – mesmo golpes, aqueles que quebram o “macho” ao meio em um toque, a “voadora na pleura central da peridural” e, em um exemplo que se aproxime do cinema recente de ação de Hong Kong, “the five point palm exploding heart technique”(Kill Bill – Volume 2[idem, 2004] manda um abraço) - e vamos nos apaixonando cada vez mais(ou as vezes nem tanto, afinal qual seria a graça se tudo fosse perfeito? Mas, uma coisa está certa, dentre outras coisas eternas na sétima arte, sempre estaremos com aquela busca, desejo de que tudo vai dar certo, no final das contas, todo mundo “torce” para o bonzinho ganhar, por mais óbvio que seja ou não, sempre iremos ter a emoção de torcer).
Para Halder Gomes, dentre tantas falácias do nosso herói cearense, uma é a mais verdadeira e mais sólida em todo o seu filme. O cinema de ação de Hong Kong, o maior homenageado aqui, é com certeza um filho do cinema mudo. Cine Holliúdy(idem, 2013) assume uma posição linda quanto em relação a ele, sétima arte(que ainda serve de critica para os intelectuais, que acham que para apreciar um filme é preciso conhecer o cinema todo), onde Francis diz: “[...]E nosso dever de exibidor é levar essas histórias dos cineastas que são contadores de histórias para pessoas que querem se emocionar com essas histórias”. É o ponto onde Halder afirma que o grande cineasta é um grande contador de histórias e dentre outros diálogos traz a linguagem universal que só o cinema é capaz de dizer, o olhar que corrompe barreiras. Daí está há explicação desse falso profeta, desse mentiroso, ator e enfim cineasta Francisgleydisson. De todo grande mentiroso há um dom para a atuação, improviso, aquele que faz seu mundo e começa a então a criar a sua vida, o seu cinema.
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