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O Show de Truman (1998)

Existe algo mais interessante do que um Reality Show? Existe algo mais falso do que um reality show? Toda essa realidade, sorrisos falsos e ...


Existe algo mais interessante do que um Reality Show? Existe algo mais falso do que um reality show? Toda essa realidade, sorrisos falsos e amarelos, tudo é produto, produto, produto, vidas diante da TV prontas para serem expostas de todas as maneiras, audiência, audiência, audiência... E dentro de todo esse jogo, dentro de cada frame, existe alguém do outro lado da tela, mas não dentro dela, fora. Pior do que o reality show são os seus telespectadores, voyeurs eternos e fiéis. Prazerosamente alimentam uma rede de mentiras enquanto seu marido está a traindo, ou seu filho adolescente encontra-se chapado por falta de atenção, ou o bolo queimou por que está diante da maldita TV vendo de camarote uma vida que não é a dela. Bola teorias, sugere soluções de problemas enquanto morre por dentro, até que tudo se torna falso, de plástico, um reality show.

E é nesse contexto que “O Show de Truman” se fixa. Truman Burbank (Jim Carrey) possui uma vida perfeitamente normal. Tem uma esposa, emprego, casa... Exceto por toda ela fazer parte de um Big Brother do qual ele é protagonista desde que nasceu. Programa esse que é exibido para todo o mundo 24 horas por dia, sete dias por semana e cada centímetro da cidade em que mora, assim como os seus respectivos moradores, são artificiais e fazem parte de todo o esquema.

O filme claramente nos passa a mensagem da doença dos reality shows, da fraqueza do ser humano e do medo de lutar contra o sistema opressor em que nos encontramos hoje. Truman é um típico cidadão americano (uma antecipação do que seria Neo em Matrix, ambos filmes com mensagens subliminares e parecidas, sendo a do último talvez um pouco mais sutil), uma pessoa que possui todos os desejos, alegrias, tristezas, medos e vergonhas expostos diante do aparelho de televisão.

Todo o jogo de filmagem da obra foi feito como uma sátira a esta triste modalidade de entretenimento dos dias de hoje, valendo ressaltar as cenas onde os produtos são expostos ao publico em momentos totalmente inusitados (“Querida, vamos fazer sexo?” “Vamos, mas antes precisamos tomar Café Pelé, pois só ele é feito com amor e carinho”, um exemplo), técnica utilizada também por várias emissoras brasileiras, inclusive a santa Rede Globo de Televisão.

Além do mais, é cheio de metáforas. Deixando de lado um pouco a temática cidadão x sistema, vamos nos voltar um pouco para o conflito Deus x homem, colocado em xeque justamente no clímax da obra, que se for visto por esse ponto se torna genial. Pense no diretor do reality como Deus e Truman como o homem e reveja essa cena. Truman se sobressai, quebra seus tabus e cruza o fim do seu universo, partindo para um novo totalmente desconhecido. Já o diretor falha, pois mesmo depois de trinta anos estudando a sua criação, conhecendo cada sensação dela, não consegue controlá-la. Um verdadeiro soco no estômago de quem acredita no irrefutável e implacável destino. Assim como Truman cruzou seu portal, Neo ressuscitou e parou as balas com as mãos.

Apesar de todas essas mensagens e metáforas, O Show de Truman é um filme engraçado, emocionante, que flui suavemente e feito para todas as idades, acompanhado do estilo extravagante de sempre de Jim Carrey.


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