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A Vida dos Outros (2006) - Crítica

Ao assistir o filme tive a impressão que o seu tema central já havia sido tratado em outras obras. Ao rememorá-lo, encontrei ecos do que na ...



Ao assistir o filme tive a impressão que o seu tema central já havia sido tratado em outras obras. Ao rememorá-lo, encontrei ecos do que na tela vi em duas obras de meu conhecimento. Uma é em Star Wars, afinal o Capitão Wiesler não deixa de ser um Darth Vader , apesar de não trazer em seu corpo marcas visíveis de sua robotização - Um indivíduo que se desumanizou. Outro, esse retratado tanto na literatura quanto no cinema: Winston de “1984” de Orwell . Só que um Winston com uma nova oportunidade: O ser que ressurgiria da lavagem cerebral que lhe foi imposta. Que deixaria o estado de coma para viver novamente. A Alemanha que sairia das mãos da Stasi para a incerteza capitalista, deve ter tido muitos Wiesler que com atitudes camufladas ajudaram a minar a podridão de um sistema em que imperava o não deixar que a liberdade de pensar e viver diferentemente ali surgisse.
O filme tem início com vários alunos assistindo a um filme onde se vê que a manipulação das informações e a violência de cunho psicológico são as armas utilizadas pela STASI(O grande irmão da Alemanha Oriental). Um indivíduo é interrogado até a exaustão por Wiesler. Ele o mantém preso e em interrogatório. O ensinamento a ser passado: Em situações de extrema fadiga a verdade vem a tona. Um inocente grita e se revolta, ao passo que um suspeito continua a repetir a mesma ladainha. E percebemos também que a verdade transmitida por um homem da STASI não deve ser questionada, nem seus métodos: Um aluno que faz um questionamento inconveniente tem seu nome grifado por Wiesler em uma lista. Tomamos assim conhecimento logo de início tanto do homem, quanto do sistema que ele representa. Wiesler é um espião competente, que domina plenamente as funções que desempenha. 
Devido a seu talento é convocado pelo Capitão Anton Grubitz a espionar dois artistas (ele um escritor, ela uma atriz) ligados ao teatro. O que motiva essa espionagem, não é uma ameaça ao Estado. Apenas o desejo de posse que o ministro Bruno Hempf (ciente de seu poder) tem em relação à companheira de Georg Dreyman. Ele precisa possuir todos que estão ao seu redor.
Quando Wiesler mergulha na vida dos outros, ele lentamente começa a enxergar uma outra realidade. A realidade trazida pela arte e pela não troca de interesses sociais (quando o casal se entrega um ao outro, emana um sentimento de preocupação de uma para com o outro). Wiesler passa a conviver com uma realidade que não é a sua. Começa paulatinamente a conhecer um homem que através da arte não enxerga e não sente os liames que fazem parte do cotidiano do mundo que o cerca. E ele passa a querer viver a vida dele. E passa por isso a se transformar. Se esse homem conseguiu não se deixar contaminar pela sociedade que o cerca, não poderia ele também seguir o mesmo caminho?
E Wiesler passa a se policiar para deixar para trás o homem velho. E ele paga o preço pela insubordinação. Ele contudo não se queixa, pois pagar tal preço, significa não mais usar os potenciais que o tornaram o monstro que era. 
A primeira vez que vi o filme achei que o final era seu calcanhar de Aquiles. Percebo porém que me enganei. Quando Dreyman procura compreender o que se deu, como não fora pego pela armadilha armada por ordem de Hempf e passa a compreender que foi auxiliado por alguém que não conhecia e que devia ter sido o seu carrasco, quer mostrar seu reconhecimento. E ele é feito da mesma maneira com que este o ajudou. De forma fechada, afinal Wiesler fora para ele uma benção, mas e antes de seu despertar?
Um dos filmes mais marcantes da década. Por sua coragem em tocar de forma aguda um passado que ainda está presente. E o fato da história ter se dado em 1984 não me soa como uma mera coincidência. É uma releitura digna e realista de George Orwell.

Escrito em 12/11/2008 por Conde Fouá Anderaos


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