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... E o Vento Levou - Crítica

Assisti a esse filme pela primeira vez no final da década de 70. Em um cinema de bairro, com direito a pipoca no intervalo. Não posso negar ...


Assisti a esse filme pela primeira vez no final da década de 70. Em um cinema de bairro, com direito a pipoca no intervalo. Não posso negar que sai empolgado. Era um espetáculo cinematográfico de respeito. Passado 30 anos, não nego que me é difícil comentar tal obra. São 30 anos que se passaram, há também o amadurecimento que vem com eles, um maior conhecimento do mundo e do cinema. Revendo por esses dias esse filme, posso dizer que hoje entendo a razão que faz com que alguns torçam o nariz para a obra, ou a vejam com restrições. Pensando nisso, gostaria de tecer algumas questões e colocar algumas impressões. 
A primeira que me vem a cabeça é : Seria ainda nos dias de hoje esse filme uma obra de grande acuro visual e técnico? Temos de nos lembrar que o filme foi concebido se utilizando da tecnologia do tecnicolor . Isso fez com que o filme ganhasse de cores extremamente vivas. Tal pode ser visto sobretudo na cena do incêndio de Atlanta (a primeira a ser filmada) quando Scarlett foge com Rhett e Melánie junto com a criada. Sabemos que para cria-la foram consumidos pelas chamas cenários de várias produções da época (inclusive King Kong). Outra cena marcante é aquela em que vemos Scarlett diante de um céu com tons ocres e púrpuros jurando que ela e os seus não irão morrer de fome. Essas duas cenas (poderíamos citar mais) nos permitem de ver que as cores (bem como a música de Max Steiner) deram a narração um caráter de grandiloqüência raras vezes visto na sétima arte. O preço a pagar foi claro: Parece que assistimos a uma exceção, o filme não consegue se moldar a realidade ao qual estávamos habituados (por outro lado, não podemos deixar de levar em conta que é construído uma aura saudosista; a era de ouro do Sul, tal como foi imaginada, pode ser materializada na tela).
Scarlett é a personagem mais bem construída do filme. Nela podemos ver que a ausência masculina (homens se dedicaram a Guerra) fez com que as mulheres se emancipassem. A lembrança da 1ª Guerra não estava de todo esquecida. Durante ela a mão-de-obra feminina foi de suma importância nos paises em conflito, e foi a mulher alçada ao posto de chefe do lar nessa época (quando do lançamento do filme o espectro da 2ª Guerra se fazia sentir em todo o mundo). Apesar disso essa construção excelente do personagem, bem como de seu par Rhett Butler não conseguiu apagar ou nos deixar esquecer os fantoches que conviviam ao seu lado(Melanie Hamilton – Olívia de Havilland e Ashley Wilkes – Leslie Howard, a primeira chorosa e frágil em excesso e o segundo apático de maneira inexplicável mais atrapalham que contribuem para o filme). A paixão de Scarlett por Ashley não é algo crível. A não ser que Scarlett fosse idiota (o que suas ações desmentem). Além do par central, destaco sempre a presença brilhante de Hattie McDaniel ( e imaginar que ela não pode comparecer em várias estréias estaduais do filme em terras do Tio Sam, devido a estúpidas leis racistas). A sua personagem ainda que caricata, demonstra sua capacidade de intérprete. Mais de uma vez ao rever o filme, tive a sensação (insinuação ou não) de que a presença de sua personagem não se restringia a cozinha. Sempre me pergunto se o oscar lhe abriu as portas ou alijou-a de vez dos estúdios (Olívia de Havilland sempre demonstrou não se conformar de ter sido preterida como coadjuvante). Sei apenas que não pode ser enterrada no Cemitério de Hollywood, como era seu desejo, por ser negra. 
O que mais choca quem admira o cinema é questão da direção de “...E o vento levou”. Sabemos que foi um filme dirigido por vários diretores: Sam Wood, Victor Fleming, George Cukor e o próprio produtor David Selsznick. Na minha idéia passei a creditar o filme a David Selznick. Se partimos da idéia de que Capra tinha : Um navio, um só comandante; um homem, um filme; podemos creditar a Selznick a direção desse filme. E aí pelo menos atenuaríamos o problema de acharmos tal filme uma obra sem um cérebro (um diretor) . Surgiria outros problemas, afinal é sabido por todos que apesar de ter um excelente tino comercial e uma apurada sensibilidade para o mundo dos espetáculos, Selznick influenciava outros a realizar aquilo que lhe via na mente. E esses outros é que faziam o trabalho braçal. E muitas vezes eles eram mais talentosos que ele próprio. Mas apesar disso ainda fico mais tranqüilo com a minha consciência ao imagina-lo como o diretor desse filme. Credito a ele a parcela maior de créditos pelos acertos e fraquezas da obra.
Agora eu jamais teria premiado o filme com o oscar principal e o de direção em 1939. Mas diante da profícua produção de qualidade daquele ano, não posso condenar o que a Academia fez (ela cometeu desatinos bem maiores ao longo da história e a seguir veremos o que atenua tal escolha). Tivemos só para citar alguns: “Levada da breca” e “Paraíso infernal” de Howard Hawks ( o primeiro em minha opinião obra menor e o segundo um filmaço); “Ninotchka” de Ernst Lubitsch (boa comédia com fundo político e grande elenco) , “O morro dos ventos uivantes” de William Wyler (ainda que muito inferior ao romance, uma obra maior); “O mágico de Oz” de Victor fleming (? – clássico infantil dirigido também por vários diretores); “Gunga Din” de George Stevens (envelheceu mal, mas marcou época); Beau Geste de William A. Welmman (irregular mas com momentos de tirar o fôlego); “Adeus Mr. Chips” de Sam Wood; “Duas vidas” de Leo McCarey; “Carícia fatal” de Lewis Milestone; “Os tolos voadores” (filme bom da dupla “O Gordo e o magro – não me vem a lembrança quem dirigiu); “Ao rufar dos tambores”, “A mocidade de Lincoln” e “ No tempo das diligências” de John Ford (três em um só ano); “Noite de pecado” de John M. Stahl (um excelente fabricante de melodramas); “Meia-noite” de Mitchell Leisen (excelente comédia, junto com “Garota de sorte” o seu melhor filme); “O Corcunda de Notre-dame” com Charles Laughton (também não me recordo a direção – Seria Dieterle?) e o melhor de todos: “A mulher faz o homem” de Frank Capra. 
Sei que não foram somente esses os filmes produzidos em território americano naquela época. São os que me vieram a cabeça. Teve outros, é impossível que La Cava, Michael Curtis e outros famosos a época nada tenham feito. Sei que visto hoje, parece nítido que “...E o vento levou” não era a melhor obra. Mas se estivéssemos naquela época, não teríamos optado por aquilo que fazia estardalhaço e enchia os olhos a primeira vista? A obra tem qualidades, não podemos dizer que foi de todo injusto as premiações. Se dependesse de meu voto; Capra faturaria. Sua obra é mais coesa, o que não torna “... E o vento levou” um filme menor.

Escrito em 16/05/2008 por Conde Fouá Anderaos

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