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Drive (2011)

Provavelmente você já ouviu falar de Drive, a sensação cult de 2012, causador de frisson em Cannes. Baseado em livro homônimo do autor James...


Provavelmente você já ouviu falar de Drive, a sensação cult de 2012, causador de frisson em Cannes. Baseado em livro homônimo do autor James Sallis, o longa de estética estilizadamente retro tem maduros sintetizadores, remetendo-nos as décadas de 70 e 80, chegando a ser comparado ao aclamado personagem de Clint Eastwood em “Um Estranho Sem Nome” (1973). Homenageando clássicos como Bullitt (1968) e Taxi Driver (1976), tanto nas perseguições de carros quanto na solidão do protagonista, parece conflitar-se internamente acerca de sua natureza. O longa assinado pelo dinamarquês Nicolas Winding Refn (Bronson, 2008) e protagonizado por Ryan Gosling (Amor a Toda Prova) acertam em cheio no thriller do introspecto motorista de fuga. Na história Gosling encarna um dublê e mecânico de dia, (a noite um gateway driver das ruas de Los Angeles) que acaba por se envolver com a vizinha (esposa de um ex-presidiário).

Praticamente ignorado pelo Oscar, sem muito barulho Drive se fortaleceu na cena alternativa, estabelecendo um sentimento de euforia na crítica jornalística especializada que aos poucos derramou-se em elogios, reverenciando-o por inúmeras premiações no mundo a fora. Vencedor da Palma de Ouro de Melhor Direção, o longa chegou a ser aplaudido durante 15 minutos de pé após sua exibição no 64º Festival de Cannes. Ainda que pouco conhecido em terras tupiniquins, Refn já havia dirigido os violentos Pusher (1996) e Bronson (2008), este último estrelado por Tom Hardy (Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge), onde trazia inúmeras referências posteriormente utilizadas em seu sucessor. Ao lado de Gosling está Carey Mulligan (Shame), graciosamente firme no papel de Irene encabeçando o elenco que também conta com as fantásticas presenças de Albert Brooks e Ron Perlman.

A plot do filme tem premissa simples, mas de impecável execução, desta forma exige bastante do espectador, sugerindo que ele participe da experiência, que sua percepção de entrelinhas esteja às aguças. A dinâmica morosamente tensa parece flertar com o clássico e o contemporâneo (entre o western e o noir) o que em determinados momentos faz com que não consigamos situar o tempo em que se passa a história. O hipster vintage da fotografia (assinada pelo experiente Newton Thomas Sigel), detém uma sublime tradução de sensações ao brincar com os contrastes de luz e sombra em cada fotograma, o que só fortalece a concepção de isolamento social do Driver. Seu estilo visual (utilizado por lentes grande angular) reforça ainda mais o primor nas nuances do protagonista. As atuações são extremamente competentes e dotadas de densa sutileza. A famosa cena do elevador é extraordinária, um primor de direção, brindando-nos com a medida certa de doçura na violência, incrível. A história é contada de uma forma muito contemplativa, e de atmosfera silenciosa que por vezes parece berrar na tela do espectador.

Sem revelar spoilers, não se pode deixar de citar as inúmeras questões alegóricas que mesmo ausentes no livro foram incluídas no filme para melhor ilustrar a trama. Na cena do lago o personagem Benício pode bem ser um sapinho e o Driver inequivocamente um escorpião como mencionado no conto do Escorpião e o Sapo. A construção da trama está impecável, a todo o momento o Driver causa-nos a sensação de que passou a vida inteira olhando através do retrovisor. Este é clima impresso num piloto de fuga que (defensivamente) foge à sua natureza, corre contra o instinto (de escorpião) e de uma forma genial parece inverter os papéis ao carregar o sapo nas costas. Não entendeu, então assista.

Drive nem sempre é fácil, um pouco arrastado para um público não habitual, portanto uma dica: procure prestar bem a atenção em tudo que acontece no filme, discuta, debata, interprete e desvende quem é o Driver. Existem cenas que aparentemente se imagina serem cenas de passagem, quando na verdade ali estão contidas as informações necessárias para compreender a tensão impregnada no longa “pop cult". Ele funciona impressionantemente com o doce da violência e o amargo do silêncio, tudo num perfeito yin-yang de vice-versas, onde Refn acelera e Gosling parece responder ao impulso. Agora pule para o banco de trás, perca as chaves e embarque na carona de Gosling e Refn engatando um veloz, mas silencioso Get in. Get out. Get away!

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