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O Sonho de Cassandra (2007) - Crítica

“Dois irmãos se cotizam para realizar um velho sonho: Adquirem um velho veleiro sob o olhar complacente dos pais, já que nenhum dos dois pos...


“Dois irmãos se cotizam para realizar um velho sonho: Adquirem um velho veleiro sob o olhar complacente dos pais, já que nenhum dos dois possui condições financeiras para manter esse símbolo de status social - Um arroubo de juventude tardio. Terry (Collin Farrel) é um jogador que acredita dominar seu vício, mas que é levado por ele. Trabalha em uma oficina mecânica. Ian administra um pequeno restaurante pertencente aos seus pais. O primeiro é confrontado com uma vultosa dívida de jogo, cujo valor está bem além de sua realidade; Ian apaixona-se por uma ambiciosa atriz e sabe que ela o abandonará se ele não possuir expectativas de ser um homem bem sucedido. A única solução para ambos é demandar o apoio do Howard que fez fortuna na Califórnia. Esse não arrefece as esperanças de ambos, ajudá-lo-as em troca de um pequeno favor...”
Muitas pessoas andam torcendo o nariz para a nova fase da cinematografia de Woody Allen. Acreditam-no em decadência. Ledo engano. Em realidade Allen anda em busca de uma nova maneira de expressar seu potencial artístico. Abandona paulatinamente a comédia e caminha rumo ao thriller ou suspense psicológico. Em se tratando de um diretor que nos legou uma obra sólida com vários filmes muito bons e pelo menos duas obras primas (“Zelig” e “A Rosa Púrpura do Cairo”), a pergunta que se faz é: Qual o motivo para essa guinada? Allen nos diz que o que o levou a comédia foi o fato de seus produtores enxergarem ali uma fonte de renda. Ou seja, havia o talento (e que talento!) e eles (Allen e produtores) o exploraram. Allen agora quer mostrar sua outra face. É como se sentisse que não convém mais procurar atingir a perfeição, ou supera-la, do que conseguiu com as obras-primas citadas. Prima agora por esculpir em um outro campo. 

É o mesmo que deu-se com o escritor Tolstoi após a feitura de “Guerra e Paz” e “Ana Karenina”. Procurou escrever obras de cunho educacional e místico - um novo caminho.
A temática principal dessa obra a meu ver é o questionamento sobre a liberdade e os limites do ser humano. Conhece o ser humano os seus limites? Sabe ele fazer uso de sua liberdade?
Terry é um ser como vários que andam por aí. Bebe, joga, é noivo. Em suma é um medíocre que mata o tempo, enquanto este o mata. Ian é um sonhador. Quer alçar vôos maiores que seu irmão, mas acaba por criar somente castelos de areias.
Allen, talvez devido a sua bagagem como comediante, não é um fatalista. Graças a isso os personagens que se apresentam ao público não são marionetes. Ian e Terry quando se encontram com seu tio Howard (Tom Wilkinson) para pedir ajuda descobrem a face mefistotélica dele. Possuem, no entanto, o direito a escolha. Eles podem optar qual a moral que escolherão. Os homens são muitas vezes livres. Eles é que criam as grades que o cercam. É esse não aceitar ser preso que define um homem, bem mais que a classe social ou seus amigos. O demônio tentador de Ian é a atriz ambiciosa de teatro que ele julga poder possuir. Uma mulher bela, sedutora mas oca. Ela nunca percebe o que ocorre realmente. É apenas uma prenda a ser arrebatada por aquele que possuir a maior quantia. Já Kate, a noiva de Terry, não se mostra uma mulher de grandes dotes intelectuais. No entanto ela tem noção que existe algo de podre no reino da Dinamarca. Só que pede ajuda para a pessoa errada (Ian). Ian acredita que está próximo a realizar seu sonho: Sucesso financeiro e a mulher escolhida. Parece propenso a fazer de tudo para abraçar seu objetivo. Se Terry percebeu que não pode continuar a viver devido a escolha feita pois ultrapassou o limite do suportável. Já Ian nos leva a crer que pode descer mais. Só que prestes a realizar seu intento percebe quão próximo estava do seu limite: Não pode cair mais. Não existe mais caminho a seguir. O final escolhido por Allen é de uma simplicidade genial. Os personagens se foram, o cenário permanece erguido.
As interpretações de todo o elenco são boas. Destaco porém a dupla central, sobretudo Collin Farrel, que longe das engrenagens de Hollywood mostrou-nos uma faceta desconhecida.

Que venha mais do novo, pelas mãos do velho e talentoso Woody Allen.



Escrito em 09/11/2018 por Conde Fouá Anderaos

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