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Bonequinha de Luxo (1961)

Certa feita, ouvia uma conversa no aeroporto e foi indagado a alguém qual seria a cena cinematográfica que ele mais adorava: Citou aquela em...


Certa feita, ouvia uma conversa no aeroporto e foi indagado a alguém qual seria a cena cinematográfica que ele mais adorava: Citou aquela em que Audrey Hepburn canta “Moon river” nas escadas em " Bonequinha de luxo". Instigado pelo comentário fui conhecer o filme. Para falar a verdade, não fiquei muito empolgado. Com o passar do tempo, percebi que o filme se engrandecia. Era um daqueles filmes que só percebemos o valor, quando distante dele. Todo o clima de nostalgia dos anos 60 ressurge em nossa mente, ainda que não o tenhamos vivido. É a história de uma jovem que abandona o marido (que tinha a idade de seu pai) e resolve se perder na cidade grande. Existe um não sei que de “Bovary” – Gustav Flaubert, em sua construção (vive sonhando). Ela é uma garota de programa (US$ 50,00), bebe em excesso, vive nas festas e almeja desposar um milionário (Quem no entanto cai amoroso por ela é seu vizinho, um discreto escritor, sustentado por uma amante mais velha). Pensa que conduz a existência, mas é conduzida por ela. E assim deixa-se ficar.

Duas interpretações deixam a desejar no filme: a de Mickey Rooney (um japonês!) e a de George Peppard que são totalmente ofuscados por Audrey.

Várias cenas são marcantes nesta obra: a inicial onde vemos a protagonista diante da Tiffany’s vislumbrando a vitrine, na 5ª avenida, em uma manhã deserta, saboreando um salgado (creio que um croissant). De repente ela acena para um táxi, entra nele e se vai. Outra cena é a do baile de máscaras, que tem o poder de nos passar o ambiente daquela época. Temos ainda a da canção já citada e aquela de uma pequena festa entre amigos.

A personagem principal não deixa que ninguém se aproxime de seu mundo interior (tocam apenas a superfície), apesar de todos quererem (nós e eles) mergulharem em algo mais, atraídos que são pela sua ingenuidade e fragilidade. O filme nos passa também uma sensação de impotência. Não vivemos aquele mundo e ele nos chega diante de nossos olhos de uma maneira sempre atraente e ao mesmo tempo distanciada causando uma estranha melancolia. Eu ainda não possuo uma opinião definitiva sobre essa obra. Parece-me que estou diante de um reflexo, de algo que me remete a um mundo pouco nítido. Convido a todos para conhecerem a obra. Daí poderão construir sua opinião. Ou ao menos a sua impressão, como é o meu caso.


Escrito em 29/07/2007 por Conde Fouá Anderaos

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