Quando saíram os primeiros anúncios e comerciais sobre a divulgação de Sobrenatural(Insidious, 2010), confesso que fiquei ansioso. Ainda des...
Quando saíram os primeiros anúncios e comerciais sobre a divulgação de Sobrenatural(Insidious, 2010), confesso que fiquei ansioso. Ainda desconhecia Atividade Paranormal(Paranormal Activity, 2007)[belo exemplo de filme semelhante, mas de resultado diferente], que tinha na posição ao lado do filme que já conhecia na infância, Jogos Mortais(Saw, 2004). Depois de 3 anos de seu lançamento e prestes a lançar a sua sequência aqui no Brasil, o filme de James Wan, um cineasta interessante de se observar e que certamente precisa de certo foco no histórico atual de Hollywood, principalmente pelo seu gênero, é certamente o filme mais inovador de alguns anos para cá.
A começar, que essa estética que apresentava que parecia se propor, foi totalmente inferida por James Wan. É impossível não lembrar ou notar de um aspecto tanto em seu enredo como em pôsteres e entrevistas que o cineasta deu, uma certa relação com algo já estudado ao longo dessa moldura de terror, e não a muito tempo, quando A Profecia(The Omen, 1976) de Richard Donner, clássico do cinema de horror(prole de uma época rica para seu gênero) lançava a 37 anos atrás nos cinemas. Bordado por cenas clássicas e por vezes uma trilha-sonora raramente lembrada, mas que merece sua atenção, ainda soa nos ouvidos de tantos espectadores e que deu a volta ainda em 2006 com a sua refilmagem.
É tão característico o uso de certos artefatos na projeção de uma película de terror que chega a ser óbvio o uso do elemento. James Wan, um cineasta da memória e do jogo de câmeras, traz à tona um tipo essencial de terror principalmente para novas gerações que nem sempre encontram com facilidade um filme de horror de outras proporções que não a que vem injetada exaustivamente na circulação, que nada mais é um filme cru com fórmulas(possessões, sustos grátis e um final aparentemente feliz). No filme de Wan é claro ver a influência do cinema fantástico tanta na sua ambientação quanto no seu clímax bem utilizado de forma ágil, com câmeras curiosas como sempre, mas nunca atoas, procuram sempre e vão deixando fagulhas para a revelação final e pistas para achar o menino(Ty Simpkins) que deixara seu corpo no plano real e sua alma no “Further” ou “Distante”.
Algo para mostrar a capacidade de Wan, se revela ainda mais quando durante longas sequências principalmente em seu fim, as luzes vermelhas se batem, a escuridão devora, as criaturas já “conhecidas” pelo espectador aparecem com outro ar, a envolvência entra a busca por verdade e justiça, o ligamento aos sonhos e brevemente com a religião (fator quase impossível de se ignorar). Faz crer para depois desmascara-las, navegando sobre medos, traumas e infâncias em uma viagem onde a carta principal do terror da trama passa de protagonista a antagonista revendo uma cena clara onde o mau não é meramente algo por que o julgamos assim, mas é parte de um conjunto, algo maior do que um simples ser ou algo natural. Das trevas, o cinema fantástico de terror de Wan, não é certamente uma das peças chaves para alguns aspectos do cinema de Lynch, mas sim algo que o cinema em geral precisa estudar e aprender.
Ainda que o cinema como um todo não esteja pronto para o “boom” de certas coisas “ilógicas”, é de James Wan o papel em Sobrenatural(Insidious, 2010) de reabastecer a carga de sentimentos que o cinema do malásio vem dando um impulso forte, a uma mistura deliciosa do que a de melhor na fantasia para ser transformada em um circo de horrores, o picadeiro, o berço simplista de shows curtos de figuras malignas, desde o bicho-papão até Jason e tantas outras criaturas místicas, Sobrenatural(Insidious, 2010) fazer um misto essencial daquele ar místico que pairava nas telonas mais cruéis dos anos 80, entre elas A Morte do Demônio(The Evil Dead, 1981) até Terror nas Trevas(E tu vivrai nel terrore - L'aldilà, 1981), picando elementos figurativos e narrativas típicas para dai nascer na planta criada em toda mente do ser humano, o tão falado lobo-mau, pode ser esquecido e descartado fora, mas no mais fundo baú da mente haverá sua marca e daí, a memória e o projetor deste portal sem fim do medo.
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