O cinema a partir de meados da década de 70 começou a ser invadido com filmes que visavam um filão recém-descoberto que renderia montanhas d...
O cinema a partir de meados da década de 70 começou a ser invadido com filmes que visavam um filão recém-descoberto que renderia montanhas de dinheiro às produtoras: o público adolescente. Histórias sempre de jovens banais, com problemas idiotas em situações completamente toscas era o que se tinha de sobra. Esse padrão era quase constante, com pouquíssimas exceções de filmes adolescentes que mantinham um certo rigor tanto no roteiro quanto na direção. Loucuras de Verão, do George Lucas e toda a filmografia do John Hughes são algumas dessas exceções. Porém, infelizmente, Christine não é uma exceção. Embora a direção do mestre John Carpenter consiga fazer alguns milagres, ditando um ritmo interessante na obra e proporcionando algumas tomadas com enquadramentos genias, não consegue compensar o roteiro grotesco de Bill Phillips, que joga todo o filme na privada e puxa a descarga. A história começa traçando um panorama de jovens de 17 anos totalmente idiotas e estereotipados. Temos a garota popular, o capitão do time de futebol, o nerd, o encrenqueiro e a novata tímida pela qual todos se apaixonam. No momento em que o nerd e seu amigo capitão encontram Christine, o roteiro vira de ponta cabeça. A garota popular simplesmente desaparece, o nerd vira uma cópia do James Dean de Juventude Transviada, porém muito mais arrogante, agora com o carro em suas mãos, tendo o capitão do time ainda como seu melhor amigo, a novata como sua namorada e o encrenqueiro como seu inimigo. Daí pra frente o filme se torna um suspense, que embora completamente previsível, rende alguns momentos de tensão. Não cai nas redes do enfado talvez por ainda proporcionar ao público a diversão de adivinhar o que vem pela frente, coisa que quase sempre funciona, visto que o filme não consegue escapar dos clichês. Na metade do filme já se é possível descrever com detalhes como será o final, e realmente não há surpresas neste ponto. A única surpresa fica com Keith Gordon, que após se transformar de nerd a James Dean, passa a dar um show de atuação em seus monólogos possuído pelo carro. Muitas pessoas na faixa dos trinta anos defendem esse filme, assim como outros do Stephen King e as séries de terror tão famigeradas como A Hora do Pesadelo, Sexta-feira 13 e Halloween por serem símbolos de sua própria adolescência e de sua própria geração. Isso pode cegar as pessoas e impedi-las de ter uma visão mais impessoal da obra. Eu, que não faço parte dessa geração, digo que este filme é uma obra tenebrosa, no pior sentido da palavra, mas nada impede alguém de gostar do ruim. Todos nós gostamos de algum lixo. Se você gosta de Christine, você já gosta de algum lixo também.
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