"Estrela brilhante, quisera fosse inabalável como tu és Nem diante do sólitário esplendor protelarias a noite E observando, com eterna ...
"Estrela brilhante, quisera fosse inabalável como tu és Nem diante do sólitário esplendor protelarias a noite E observando, com eterna indiferença Como paciente da natureza, o insone eremita O movimento das águas na sua religiosa tarefa De purificar os confins dos mares toldados pelos homens Ou fixar-se sob a máscara suavemente caída No cume das montanhas e da terra infértil Não - Mas ainda inabalável, ainda imutável Repousaria sobre o seio maduro do meu justo amor Para sentir para sempre a sua macia imensidão E despertar para sempre em uma doce inquietude Ainda, ainda a ouvir o seu suave respirar E assim vive-se para sempre - ou agoniza-se até a morte" John Keats Uma década e meia após o sucesso de O Piano que acabaria lhe concedendo a Palma de Ouro no Festival de Cannes, Jane Campion retorna aos filmes de época para contar a história de amor entre o poeta inglês John Keats e a jovem Fanny Brawne, ou melhor dizendo, a história de amor entre a jovem Fanny Brawne e o poeta inglês John Keats, visto que o foco da obra, feminista como o cinema de Campion já presume, recai muito mais sobre esta do que sobre seu amante. Porém aqui o feminismo é tratado de uma forma bem distinta da vista em O Piano. Fanny é um figura marginalizada socialmente. Embora venha de uma família de posse (talvez não embora, mas sim por), seus anseios e sua opinião não fazem a menor importância no meio em que vive. Por ser uma ainda adolescente (18 anos no início do filme), ela é tratada como se não tivesse capacidade suficiente para discernir o que seria o melhor para si mesma. A pressão que ela recebe do mundo externo que a oprime se funde com o feminismo de Campion na forma com que as personagens masculinas são retratadas. Extremamente escassas, se resumem ao seu amante (o único positivamente desenvolvido), Mr. Brown, amigo de Keats e que antagoniza a jovem ao se opor a seu relacionamento, e o jovem Samuel, o único parente homem de Fanny, mas que embora constantemente presente em cena, possui raras falas, como se sua presença fosse totalmente indeferente a Fanny. No romance absolutamente clichê (dois jovens se apaixonam contra a vontade dos "pais", vivem um amor fogoso, mas acabam se separando trágicamente), o que se destaca é a direção feliz de Jane Campion, com sua composição de cena que valoriza as paisagens campestres da Inglaterra além de montar o estado psicológico das personagens através de seu posicionamento em cena. Mas acima disto, ainda estão os figurinos assinados por Janet Patterson e corretamente indicados ao Oscar, que cumprem excepcionalmente bem o papel deles eserado em um filme onde sua protagonista é uma estilista por hobby. Sem dúvidas, a personagem melhor construida é a do Mr. Brown, o amigo de John Keats que é mostrado, através dos olhos de Fanny, como uma pessoa incômoda, irritante, e em certos casos, até mesmo má, mas que quando a jovem não está presente, mostra-se uma figura um tanto quanto amável, um amigo leal, e até mesmo um bom pai, ao assumir a paternidade do filho que fez na empregada, que facilmente poderia alegar não ser seu. É ele o melhor exemplo de como a obra se concentra na visão e nas idéias da garota. E exatamente por isso, o filme acaba tendo a maturidade de uma menina-mulher que vive o seu primeiro amor. Brilho de uma Paixão, embora muito bem trabalhado e dirigido pela diretora neozelandesa, em nenhum momento deixa de ser aquilo que retrata: um romance absolutamente pueril.
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