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Era uma Vez em... Hollywood (2009) - Crítica

Pulp Fiction transformou Tarantino numa referência mundial, não só pelo fato de ter arrebatado a Palma de Ouro, mas sobretudo pela qualidade...


Pulp Fiction transformou Tarantino numa referência mundial, não só pelo fato de ter arrebatado a Palma de Ouro, mas sobretudo pela qualidade indiscutível do que foi levado as telas e também por romper com a película os limites do país onde nasceu. O fato de ter angariado o prêmio no velho continente pesou muito em sua carreira. Alçado ao posto de cineasta erudito (ainda que pese contra ele o fato de: “Tarantino nunca leu um livro clássico em sua vida – Pedro Almodovar”).
Na obra precedente (Os Oito Odiados) o principal alicerce que sustentou o filme foi fazer referência a suas próprias realizações, o que pesou em reforçar a sensação de um filme extremamente longo sem necessidade. Quando se descobriu que faria um filme cuja inspiração seria o próprio cinema, o universo hollywoodiano da década de 60, um leve sorriso percorreu as faces do séquito que aguarda o lançamento de suas obras. O tema prometia, uma história recheada de referências, mas nada de novo é revelado sobre a indústria cinematográfica, tampouco sobre o período em que se passa a história. Ele se vale do expediente utilizado por Burton quando da feitura de “Ed Wood”, ou de Allen em “Poucas e Boas”. Ele encena um fato já conhecido para evocar seus próprios demônios, os desafios a vencer. O Rick Dalton que nos chega é o reflexo de como Tarantino se sente: uma ex-estrela de uma série de TV, cuja carreira agora está restrita a pequenos papéis de vilões - um artista sem futuro! Ao falar de si, ainda que de forma velada, o filme desbanca para um tom sombrio. Um artista que devido o produto descartável que oferece, sem pretensões artísticas, mantém uma bela propriedade, ao lado de talentos de verdade – Roman Polanski, Sharon Tate, Bruce Lee, ...
A trilha sonora (ponto alto em todas as suas obras) e o humor debochado servem apenas para aliviar o conflito existencial que tomou conta de si. Todos lhe são superior, todos deixaram uma marca perene, até mesmo Mason. E dessa forma o filme avança, sem que necessariamente a trama desenrole, pois ela inexiste. O conflito permanece. A melancolia reina. O embate de Rick Dalton e a menina de oito anos (Julia Butters) resume de forma brilhante o conflito. Ela nova, um futuro pela frente, firme e segura de si; ele um leitor vulgar, um artista raso escanteado a pequenas participações em produções alheias.
Quando deixa o solo americano, a referência a Clint Eastwood salta aos olhos. O mesmo permaneceu anos em solo italiano e voltou mundialmente conhecido, Rick Dalton meses e foi como se não tivesse ido. Pontuado isso, sobra a Tarantino alfinetar os demais, transformando-os em bonecos vodus. Sobre o polonês: “um dia ele vai fazer uma besteira”, Bruce Lee serve de chacota a Clif Booth, e por aí vai. Sharon Tate é poupada, visto que caberá a Tarantino utilizá-la como catarse.
Em Bastardos Inglórios, Quentin Tarantino revisitou a história - a da Segunda Guerra Mundial - com o prisma da ficção para dar um rumo diferente. Esse expediente parece ter encontrado uma abordagem mais feliz aqui. Lá em Bastardos Inglórios o que nos ficou foi um gosto acre de um futuro pior. Os bastardos eram crias mais monstruosas do próprio totalitarismo que varria a Europa e somente suplantou os nazistas por oferecerem uma perspectiva mais sombria. Aqui os dois personagens fictícios que saltaram de paraquedas na década de 60 são menos brutais. Talvez pelo já discorrido nas linhas acima, o conflito existencial de seu diretor plasmado na tela ou quem sabe ele esteja se comprazendo com a materialização de seus sonhos trazido pela eleição de Donald Trump e sua visão de mundo. Por isso o tom de comédia impera mais que o habitual durante o filme. E essa alegria desaguará na possibilidade de mudar a história, e transportará o público e o próprio diretor a uma outra dimensão. Dimensão essa mais alegre onde temos o poder de evitar catástrofes e que possa garantir o sucesso de todos.  Para que isso ocorresse Tarantino fez uso de seu arsenal pessoal. É o momento em que a violência explode na tela. E ele (sempre ele) se torna assim aquele que impediu a desgraça. Pena que seja só na ficção. A realidade é bem outra. Seu futuro segue inconcluso, mas pelo menos aqui o final alterado serve de catarse positiva e fez com que saiamos do Cinema satisfeitos com o que nos foi oferecido.

Escrito por Conde Fouá Anderaos

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