É um daqueles filmes que marcam. Alicerçado em um texto enxuto e preciso, encontra no par central a necessária competência interpretativa, a...
É um daqueles filmes que marcam. Alicerçado em um texto enxuto e preciso, encontra no par central a necessária competência interpretativa, além de uma direção que prima pela sensibilidade. Impossível falar de tal filme sem citar outros que remetem em maior ou menor grau ao tema central da obra.
Caroline e Michael são dois irmãos que chegam a uma pequena herdade rural no estado de Iowa, Condado de Madison, para se darem conta do inventário de sua mãe Francesca que acaba de falecer. Desejosos de enterrar os despojos na tumba do pai já falecido se indignam ao saberem que ela solicitou a cremação, bem como um destino para as cinzas. Crentes que tal pedido foi realizado fora do seu juízo encontram um diário que tudo explica e que relata o encontro que a mãe tivera décadas antes com um fotografo. Vivera com ele quatro dias de sonho e relata com detalhes, desnudando-se para os filhos que atônitos refletem na da mãe a sua própria existência. Essa idéia de tirar a aura exemplar que os filhos possuem da mãe, tornando-a tão humanas quanto eles, não é privilégio dessa obra (vide como exemplo De volta ao futuro), mas com certeza não me recordo de obra que tenha a tratado com tamanha sensibilidade e maturidade.
Se pensarmos bem a história em si é simples. E poderíamos até dizer banal. Podia resvalar na futilidade, já que se trata de um encontro entre um homem livre e uma fazendeira entediada. Ainda mais se acentua essa sensação de algo fútil ao tomarmos ciência que tal encontro durou apenas quatro dias. E se levarmos em conta que a própria envolvida ficou restrita aos arredores de onde habitava essa impressão permanece. Não existe algo grandiloqüente, cenários deslumbrantes que atordoe ao menos um dos envolvidos da trama. Pode-se considerar que as paisagens agradem, no entanto a ele ou a nós (espectadores). Grande parte da trama, contudo é restrita a ambiente fechados e a locais repetitivos. Evita-se com sabedoria o escândalo e os excessos lamuriosos tão próprios ao gênero.
O que nos cativa é justamente a escolha pelo equilíbrio, pela delicadeza, pela sensibilidade, pelo pudor, pela inteligência dos sentimentos que tornam a obra para quem assiste um doce prêmio depurado ao extremo. Feita de silêncios, olhares, pequenos gestos, olhares vagos e palavras ditas dotadas de verdade. Francesca (Meryl Streep ) exprime paulatinamente todo a confusão causada em seu ser, bem como a melancolia que o habita. A construção de tal personagem é maravilhosa. É o comedimento, a sutileza, a sensualidade abafada, a ternura que não cessa. Nessas duas horas de cinema vemos a condensação de toda uma existência. As coisas do coração possuem uma lógica incompreensível. Robert não é aparentemente um ser que viria a despertar tudo o que a vida havia renegado a essa mulher: sonhos de viagem, de descobertas maravilhosas, de potencialidades adormecidas. É ele, no entanto que a liberta da limitada (porém confortável) redoma de vidro de uma vida familiar correta, digna e aparentemente irrepreensível. E o filme que poderia descambar para um happy end correto, coloca-nos em pauta a questão do senso moral. E em nome desse sabemos ao final do filme que o sentimento não foi destruído e era real. E para que esse sentimento se mantivesse aceso era necessário que eles se afastassem. Inseridos dentro de uma sociedade, somos, querendo ou não, responsáveis pelos que nos rodeiam. O amor que descobrimos subitamente, e que, como diz no filme, é único, carece de decisões sábias para não ser destruído, ou para que não venha a destruir o ser. Francesca amava Robert, mas transformar-se-ia em um espectro se deixasse de lado os filhos e o homem reto que a tomou como companheira.
Já vimos essa história no próprio cinema. Só que as escolhas da produção e da época a conduziram a outro nível de abordagem. Trata-se de “Desencanto” de Lean. “As Pontes de Madison” não é uma refilmagem moderna dessa história. Nem tampouco cópia descarada. Trata-se apenas de se abordar temas caros a complexidade da alma humana. Ambos dignos de serem creditados como obras maiores. Que optam pelo caminho difícil de não agradar nossos desejos imediatos. Escolhem o caminho do engrandecimento de nossa compreensão rumo a evolução de nossa condição humana. Obrigatórios.
Caroline e Michael são dois irmãos que chegam a uma pequena herdade rural no estado de Iowa, Condado de Madison, para se darem conta do inventário de sua mãe Francesca que acaba de falecer. Desejosos de enterrar os despojos na tumba do pai já falecido se indignam ao saberem que ela solicitou a cremação, bem como um destino para as cinzas. Crentes que tal pedido foi realizado fora do seu juízo encontram um diário que tudo explica e que relata o encontro que a mãe tivera décadas antes com um fotografo. Vivera com ele quatro dias de sonho e relata com detalhes, desnudando-se para os filhos que atônitos refletem na da mãe a sua própria existência. Essa idéia de tirar a aura exemplar que os filhos possuem da mãe, tornando-a tão humanas quanto eles, não é privilégio dessa obra (vide como exemplo De volta ao futuro), mas com certeza não me recordo de obra que tenha a tratado com tamanha sensibilidade e maturidade.
Se pensarmos bem a história em si é simples. E poderíamos até dizer banal. Podia resvalar na futilidade, já que se trata de um encontro entre um homem livre e uma fazendeira entediada. Ainda mais se acentua essa sensação de algo fútil ao tomarmos ciência que tal encontro durou apenas quatro dias. E se levarmos em conta que a própria envolvida ficou restrita aos arredores de onde habitava essa impressão permanece. Não existe algo grandiloqüente, cenários deslumbrantes que atordoe ao menos um dos envolvidos da trama. Pode-se considerar que as paisagens agradem, no entanto a ele ou a nós (espectadores). Grande parte da trama, contudo é restrita a ambiente fechados e a locais repetitivos. Evita-se com sabedoria o escândalo e os excessos lamuriosos tão próprios ao gênero.
O que nos cativa é justamente a escolha pelo equilíbrio, pela delicadeza, pela sensibilidade, pelo pudor, pela inteligência dos sentimentos que tornam a obra para quem assiste um doce prêmio depurado ao extremo. Feita de silêncios, olhares, pequenos gestos, olhares vagos e palavras ditas dotadas de verdade. Francesca (Meryl Streep ) exprime paulatinamente todo a confusão causada em seu ser, bem como a melancolia que o habita. A construção de tal personagem é maravilhosa. É o comedimento, a sutileza, a sensualidade abafada, a ternura que não cessa. Nessas duas horas de cinema vemos a condensação de toda uma existência. As coisas do coração possuem uma lógica incompreensível. Robert não é aparentemente um ser que viria a despertar tudo o que a vida havia renegado a essa mulher: sonhos de viagem, de descobertas maravilhosas, de potencialidades adormecidas. É ele, no entanto que a liberta da limitada (porém confortável) redoma de vidro de uma vida familiar correta, digna e aparentemente irrepreensível. E o filme que poderia descambar para um happy end correto, coloca-nos em pauta a questão do senso moral. E em nome desse sabemos ao final do filme que o sentimento não foi destruído e era real. E para que esse sentimento se mantivesse aceso era necessário que eles se afastassem. Inseridos dentro de uma sociedade, somos, querendo ou não, responsáveis pelos que nos rodeiam. O amor que descobrimos subitamente, e que, como diz no filme, é único, carece de decisões sábias para não ser destruído, ou para que não venha a destruir o ser. Francesca amava Robert, mas transformar-se-ia em um espectro se deixasse de lado os filhos e o homem reto que a tomou como companheira.
Já vimos essa história no próprio cinema. Só que as escolhas da produção e da época a conduziram a outro nível de abordagem. Trata-se de “Desencanto” de Lean. “As Pontes de Madison” não é uma refilmagem moderna dessa história. Nem tampouco cópia descarada. Trata-se apenas de se abordar temas caros a complexidade da alma humana. Ambos dignos de serem creditados como obras maiores. Que optam pelo caminho difícil de não agradar nossos desejos imediatos. Escolhem o caminho do engrandecimento de nossa compreensão rumo a evolução de nossa condição humana. Obrigatórios.
Escrito por Conde Fouá Anderaos
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